Granada
Da mancha no olho casto Do prurido na pele branca Dos calos relevantes no pé 33 Das paisagens que sobram na cama Leio Azevedo por 3,99 O primeiro livro vendido no bazar Segundo a caixa Pedido de ordem nas cruzadas Não sei a capital do Líbano Sugiro Lindóia do Sul Muita letra “Não sei”, por fim, nos une Uníssonos Tocamos cabelos e formigas Nas paredes mofadas Nos panos de pia No pacote de lixo Na folhagem que atrai abelhas Nas folhagens que nos une Que regamos com suco de limão E adubamos com erva molhada Assim sentamos à margem Das tristes notícias do erro comum Das traças viciadas em naftalina Dos equívocos das tesouras com ponta Do nome no lápis sem ponta Da taça trincada por um erro comum Dos beijos si-lá-bi-cos Voltamos a caminhar Torcemos nossos corpos Na quina do sofá Na porta do box Achamos engraçado esse porte de arma Quebramos, esparramamos Os cacos da porcelana verde por dentro Vamos embora, vamos embora Nosso chão tem carvão em brasa Nossos símbolos vestem chapéu Nossa ternura usa bigode Nossas extravagâncias estão no sótão Deixo a toalha de banho marcada de cera Uso dois pingos de gel Repito a cueca Corto as unhas dentro do cinzeiro (um pote de metal para presente) Cheio de ilustrações geométricas Mas saem voando, capazes de orbitar Vamos embora, vamos embora Ela deixa rastros de primavera pela casa Ela queima como um verão bêbado Ela é outono quando sonha e inverno quando chora Suas toalhas de banho têm cheiro de pêssego Seus cigarros ardem como incenso Damos nomes aos insetos que respiram pela boca Das patrulhas pelas travessas Do mendigo que fala chinês e mendiga em espanhol Da noite que embrulha a ópera Dos centímetros que separam metros Do último furo no cinto O álibi como um simples não À margem, à margem De um confuso ato Os espelhos podem marinar A recompensa que nunca acaba Ela já está dormindo Minha lira de 29 anos * Ritmo sincronizado Continuo sendo essa equação de solidão Que soterra paladinos Em puro ostracismo vulgar Para além das manias pueris O preço dos meus dentes está caindo Correspondências sem meu nome entopem a caixa Tem Teresa, Rogério, Camilo e Adriano Com intimidades bancárias Paulo Roberto assinou TV a cabo Regina lembrou-se de Alceu Impossível esquecê-lo É o imbecil que emprestou-me a chave de fenda Alceu recebe cartas de Regina e tem uma chave de fenda minúscula Já daria um ótimo marido de aluguel Orgulharia o presidente Não a mãe Nem minha namorada, Gilmar é seu marido às vezes Ele sim tem uma bela chave de fenda Aliás, tem um jogo inteiro delas A carne e o detergente estão em promoção nos panfletos Retiro somente um da caixa do correio Não tem meu nome, mas também não tem nenhum outro Por Deus, a única coisa realmente útil que tenho na pia do banheiro È uma loção para hemorróidas, e nem ao menos posso usar Porque não incharam ainda Nem caíram pra fora de mim Penduradas, sabe Talvez eu devesse doar para o carteiro Já que nem um cachorro tenho pra ele O fogo que era azul agora derrete minhas panelas Insisto em observá-las pingando Só assim me interesso por química Parece besteira, mas decorei a tabuada Quem sabia podia sair da escola antes Capitais nunca soube Sempre um dos últimos a sair da aula de geografia Minha professora de ciências tinha um belo rabo Como não consigo lembrar seu nome? E por que não esqueço o nome da professora do pré? Alice, meu primeiro corpo impossível Bobagem, não era carnal, era amor Afinal, toda criança de seis anos era capaz de amá-la Obrigada a amar aqueles cabelos lisos e sua pele lívida Que sorriso, que voz, que cheiro absurdo Será que ela me amou tanto como eu a amei? Possivelmente, meus seis anos foram meu auge Tolerância Tolerar Ser tolo Arder em areia fina Marchar na poeira molhada Dormir em um copo Acordar em um corpo Singelamente possível * Morra-me Tráfego lateral na ponta dos dedos Deslizam verticalmente empossados Pelo limite do engodo caloroso da marginal Um outdoor repleto de dentes brancos Endossa o fio condutor como símbolo De um viés inacabado Enquanto isso, O atraso, a sonolência, as suturas Repentinamente golpeiam o espectador É longo o acesso, curto o passo Serpentinas douradas enroscam nos cabelos O céu triunfa, refletido nos incisivos Do outro lado, Um raio de sol, cruz no anzol Manjeronas brotam Em pudim de argila Tronco ou cabide? Miopia, minha pia Há em mim um manicômio Que ferve e flutua Trôpegos, os sons se conectam Apesar daquilo, A miragem entra no mar calmo e gelado Trazendo uma névoa elegante Que faz bactérias chorarem Esquálido, O torpor atravessa na faixa amiúde Preciso lavar meu calção branco
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Novembro 2021
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