como ser minha terra
sobre minha terra: preciso Conselheiro acordar sua verde mão disentérica e generosa sobre os homens e ver elas dadas às mil falanges pretas e insurretas de Carlos Marighella. preciso não temer minha fé em sebastião, em tranca-rua e na reforma agrária. preciso despertar Darcy (ouvi-lo atento como um Zarvos) me deixar morrer índio e indigesto ao registro. (preciso testemunhar meu fogo perdido) e tirar o pó dos reis amola a faca, Zumbi. arma o fronte, Brizola. preciso dar sombra à bandeira. ver uma filha acordar, por Olga. por outro pra dormir, por Zuleide. escrever por Carolina, Conceição e o suicídio literário de um silêncio - nítido constrangimento desta História. preciso beber Lima e seu rancor à burguesia. trazer à praça os poetas: desonra-los todos em uniformezinhos da oficialiesca conformidade nacional (incluindo seus jetons) e enquanto acotovelam-se pela eficiência do século, deixar com eles, devidamente inflamado, Roberto Piva e seu livre-arbítrio. preciso tomar a minha rua como um príncipe e como um capitão de areia; juntar os meus, confessar o público até ver o fútil esgarçar ver tremer a espinha gerencial da tradição em meio ao miasma rubro e enérgico de um coro de nãos. preciso dispor o meu campo de ação e sonho a algo que se abrace. cumprir essa culpa surrada, redimir à maioria na volta perdoada do ausente. ser a profecia de um padre cego como ser minha terra. preciso não me entender. e me permitir. erigir ao cerne do hino, num poema já escrito, essa aporia comovente: meu povo. meu abismo. * foto de família vejamos o sr. abutre, pelo orgulho ao novo sapato e seu sorriso de subalterno sustenido logo iniciarão as comemorações em torno de sua impune e cáustica bola - como o irremediável beijo ao pai: incorrigível ausência. ubíqua ordem. herói de seus boletos o pequeno abutre, extensão perversa de narciso, como numa rinha de galo, estufa o peito de toddy e épido às ordens da vida. ganhou diplomas e adestramentos invejáveis. trancou o cu, o nariz e a consciência e já conta cinco mil reais e a costa do sauípe. cumpre o patronato com a soberba de um tíasos não se espanta por precaução, trai sua namorada. peida no escuro e presenteou papai ao mocassim marrom na troca do engraxe e calçar a fôrma aos sábados. o velho abutre não se permite menos. tem astúcia e malícia nos seus contos em que as mulheres lhe choram sobre os ombros os filhos abandonados em decúbito dorsal por seu piruzinho de ferro. [enquanto assopra seu argumento no castelo, sua filha chora um poema.] o sr. abutre é o sim cínico e sei que dorme em posição fetal no recolhimento do imposto de renda. em desesperada alegria urge na sra. abutre um sorriso conformado às bolsas, miami, cadeiras ocupadas no jantar e a família: mentira dos retratos. iludiu-se, entregou-se, acostumou-se, abandonou a si, o tesão, a aventura, a voz e o abraço. cumpriu todos os ritos: é uma mãe. chora escondido. (sonha com valsas vez em quando.) uma vez por ano o registro sustenta tenso a ordem desses rostos fraturados. não sorriem mas suportam, lado a lado, cada um com sua concessão dominical, seu medo da vida. sua adequada solidão. * itamambuca cumprir as manhãs como as frutas. pisar a terra. acalmar as raízes. reconhecer entidades. ilibar cantos. consagrar pedras. perceber a lua iluminar o ladrão de flores. carregar alguns versos. pertencer o azul chegar aqui: eleger uma ilíada. poder inventar o dia claro.
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Novembro 2021
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