Danae Sioziou nasceu em 1987 e cresceu entre Karlsruhe, Alemanha, e a cidade de Karditsa, na Grécia. Vive e trabalha em Atenas como promotora cultural. É co-editora do jornal literário Teflon. Tem poemas traduzidos em oito línguas e os seus poemas foram incluídos na colectânea de poesia contemporânea grega Austerity Measures (Penguin, 2016).
Estas são as primeiras traduções dos seus textos para português. Οικιακά – Trabalhos domésticos Se calhar não percebeu E nem reparou mas continuou a cortar as mãos depois de descascar as pêras. O sangue fluiu com gentileza pelas linhas do destino da vida do coração até ao ralo rodopiando entre pratos sujos e restos de comida. Aproximou-se inquieto o seu gato com uma compaixão sincera começou a lamber as feridas enquanto por um breve momento ela se contemplou no reflexo vítreo dos olhos felinos uma estrangeira presa numa gaiola suja um telhado que não conhece o nascer do sol pequenos besouros no chão e na pia as mãos encharcadas num lago escuro que agora brilha coroado com a espuma branca do detergente. Das profundezas da pia nascem todas as luas cheias as luas brancas pensou deixa-me ao menos acabar a louça hoje Danae Sioziou (Grécia, 2008) Publicado em 'Austerity Measures: The New Greek Poetry' (NYRB Poets, 2017) https://youtu.be/k_PtsaEBfaI * Um assalto (2018) Ao abrir a porta da minha casa vejo que a poesia é um privilégio como os brinquedos caros da infância ou a enésima audição da tua música favorita em condições acústicas perfeitas como um beijo dado pelo amor da tua vida como milhares de póneis brilhantes como a vida noutros planetas como o mel que se dissolve completamente numa chávena de chá como rebanhos de trovões à distância Eu gosto de escrever poemas porque escuto o começo da minha morte mesmo que as pessoas não gostem ouvir poemas Eu gosto deste som a maneira como se põe em ordem as palavras a maneira como assaltam uma casa segura Gosto de escrever poemas a maneira como os gatos gostam de se lamber ao sol e eu quero ser boa nisso. eu quero ser boa nisso. * A Flecha (2010) Anda cá e brinca comigo. Desabotoa os meus botões um por um e por cada um deles contar-te-ei um sonho. Verás como as minhas costas nuas formam um arco. Por desenhar. Quando puderes, tenta esculpir aqui, peço-te, uma flecha. publicado em 'Useful Children’s Games', Harlequin Creature, New York 2016
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Novembro 2021
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