Linha do horizonte
Crescer, sair de casa para os fantasmas da rua e envelhecer, na tortura da meteorologia. Do que muda. O medo, qual linha contínua, porque a infância, os sonhos, o peso da genealogia. Dores e rugas, ruas e mais ruas, com os seus becos e paredes sujas. O medo sempre, essa moldura. O medo de demolir, o medo do novo, de não estar à altura. O medo da tradição e do ridículo. E mesmo assim querer. Querer muito. Um lugar no tempo, um quinhão do negócio, um lugar na comitiva. * Religião Às vezes o ódio, algodão doce, os pequenos tons. O nojo em todo o seu esplendor. A tradição de passar por baixo, porque há um código de bem servir, porque o vazio tem o dom de encher. Dizem, és sábio. E sorriem, como é próprio do reconhecimento entre lobos. Os nomes são apenas isso, operações, maneiras de transformar o medo, de conduzir os rebanhos. Todos os impérios se servem do mesmo. Todos soçobram com estrondo. Apêndices, adereços, notas de rodapé. * Dissimulação A dor tem capítulos, muitos. Um cúmulo eloquente, sonoro. Durante. Dá nas vistas? Sim e não, porque alcança, porque se perde. E permanece, precisa de provar o arrependimento, precisa de louvar a festa. A dor, contraditória, elegante. Persistente.
2 Comentários
Ana Maria Bruno
28/2/2020 18:08:13
Gostei imenso dos poemas. Sublinhada maturidade nestes soberbos versos. Há neles uma alerta de solidão, um grito abafado de insegurança, de uma vida de coração doente.... Carlos, parabéns! E obrigada por me proporcionar este momento de leitura profunda. Aprecio quem tem essência!!
Responder
3/3/2020 18:49:37
Tanto de verdade quanto de arte, meu caro. Apetece ler poesia assim, da mente e do coração. Obrigado.
Responder
Enviar uma resposta. |
Histórico
Novembro 2021
|