Desencontro
Nosso desejo era mútuo e jorrava sangue Meus dedos grossos tocavam-no levemente entre as coxas... quando presenciei a opulência de um sorriso refletido no vidro Comutamo-nos em silêncio através de um desejo apertado e rubro Minha petulância em o tocar em meio às pernas fora a carga de prova de toda a energia quista a ser revelada Olhos puxados, sotaque asiático, corpo definido, Era do Tiro de Guerra, Só me perco nisso! Nunca soube seu nome Talvez fosse paulista, porque o vi descer olhando para a frente —que era eu-- no terminal rodoviário de Campinas Ele deixou lembranças, e não levou a minha: uma gigantesca camada impermeável e translúcida de um sal almofadado que respingava ureia suada, mas rescendia a hipoclorito de sódio. Mesmo distante, senti-me seguro, em casa. Dendritos doentios foram sinalizados, e eu chorava por minha mãe, lembrando-me de um lar que eu nunca mais tive. * Angústia Deito-me em uma bacia de gelo, ocupando-a com 86 quilogramas e meio de tétano Ofereço minha alma salgada e enferma aos orixás que um dia salvaram-me da vida Tenho pressa para lutar... Lutar para salvar minha morte Tenho medo de uma agonia perplexa que implora por uma sobrevivência [pouco intrínseca Prendo a respiração e me afundo abaixo do gelo, alimentando-me das feridas que me estragam a retina Sinto que minhas pupilas umedeceram-se com um cuspe de carboidratos e proteínas sinistras Mas juro que terei paz antes da morte e aprenderei como se como e se vive o gosto da saliva. * Disparo À espera do primeiro pedaço alfa de matéria, desfaço-me em agonia num ritmo extasiante de morder os lábios, expelindo sangue. É fim de noite... Beijo um estranho desconhecido paredes mãos paredes não paredes chão paredes
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Novembro 2021
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