{ONDE ESTÁ A SAÍDA?} — Susana Thénon (1935-1991) — onde está a saída? — desculpe? — estou-lhe a perguntar onde está a saída — não não há saída — mas como assim se eu entrei? — claro eu lembro-me de si e até a estou a ver mas saída saída não há está a ver? — mas não pode ser vou sair por onde entrei — não já é muito tarde a partir das dez a entrada é proibida e para além disso, o que quer? que sofra uma lavagem de cabeça para deixar sair uma pessoa pela entrada? — ouça tem de haver um modo de chegar à rua — já perguntou no balcão de informações? — sim mas mandaram-me falar com você — então pronto se eu lhe estou a dizer que não há saída — onde há um telefone? — para falar com quem? — com a polícia — mas isto é a polícia — mas está maluco? isto aqui é uma sala de concertos — isso até certa hora depois é a polícia — e o que me vai acontecer? — depende do comissário de banco se apanhar o Loiácono se calhar corre-lhe bem e em poucos dias está fora — mas isto é uma loucura onde estão as outras pessoas? — secção de confinados primeiro subsolo — porque fazem isto? — ó minha senhora não me diga que nunca foi a um concerto {¿DÓNDE ESTÁ LA SALIDA} -¿dónde está la salida? -¿perdón? -le preguntaba dónde está la salida -no no hay salida -¿pero cómo si yo entré? -claro yo la recuerdo además la estoy viendo pero salida salida no hay ¿vió? -pero no puede ser voy a salir por donde entré -no ya es muy tarde desde la diez hay entrada prohibida además ¿qué quiere? ¿que me den un lavado de cabeza dejando salir a una persona por la entrada? -escúcheme tiene que haber un modo de llegar a la calle -¿ya preguntó en informes? -sí pero me mandaron a usted -y bueno y yo le digo que no hay salida -¿dónde hay un teléfono? -¿para llamar a quién? -a la policía -esto es la policía -¿pero está loco? si es una sala de conciertos -eso hasta cierta hora después es la policía -¿y qué me va a pasar? -depende del comisario de turno si le toca Loiácono por ahí la saca barata y en menos de unos días está afuera -pero esto es una locura ¿dónde está la otra gente? -sector de confinados primer subsuelo -¿por qué hacen esto? -vamos tía no me diga que nunca fue a un concierto FALTA DE CENÁRIO — Juana Bignozzi (1937-2015) Com o gesto do anjo funerário em cemitério aristocrático estendo a mão no ar na lucidez no desamparo esta mão que quisesse pertencer à pietà para cobrir tantos corpos que se devem perder sou só uma mulher que cria signos na sua casa para que os que ama saibam da sua presença ponho flores levanto o candeeiro até à mesa organizo cartas que o tempo regelou de valor renovo a água de um vaso para que caiam nela os maléficos e isto não é um retrato de miséria nem de solidão senão uma descrição um pouco ácida desta vida que perdeu a distância velada que tinham os seus poemas por vezes mais desprotegida que os passarinhos nos cabos da luz contra o inverno e muito menos invencível que os homens que levantam uma casa diante da minha janela digo eu com a pouca graça que ainda guardo não tenho futuro mas não nos enganemos é uma forma de exercer a sedução Falta de Escenario Con el gesto del ángel funerario en cementerio aristocrático extiendo la mano en el aire en la lucidez en el desamparo esta mano que quisiera ser la de la pietà para cubrir tantos cuerpos que deben perderse y sólo soy una mujer que crea signos en su casa para que los que ama sepan de su presencia pongo flores levanto la lámpara hasta la mesa ordeno cartas que el tiempo ha enfriado de valor renuevo el agua de un vaso para que caigan en ella los maléficos y esto no es un cuadro de miseria ni de soledad sino una descripción un poco ácida de esta vida que perdió la distancia velada que tenían sus poemas a veces más desvalida que los pajaritos en los cables de la luz contra el invierno y mucho menos invencible que los hombres que levantan una casa frente a mi ventana yo digo con la poca gracia que aún me queda no tengo futuro pero no nos engañemos es una forma de ejercer la seducción (ACCIDENTIEN) — María Negroni (1951) Buenos Aires não é a cidade dos amantes ao viajar as flechas distraem-se o outono chega a um lugar equivocado ou não chega os barcos como pequenos cortejos entre palavra e palavra bebem-se o vinho o ódio a triste rosa sexual é difícil alcançar o enigma que se é naturalmente a confusão de estar num corpo nunca emigra quando muito Buenos Aires morre como uma cidade inclinada têm medo os barcos de não poder sair de não querer sair da jaula obscena da linguagem na verdade nada ainda começou nada poderia começar quando procuramos o absoluto e só encontramos flechas distraídas é assim não tão breve a prisão não tão breve o cadáver da rosa sexual para sair é preciso entrar não pela esquerda mas pela esquerda os barcos mentem quando escrevem mentem quando não escrevem as decisões tomam um cariz um pouco trágico oh Sócrates faz música um motim no lar do medo não resolve o enigma do medo do lar quando muito essas flechas que chegam e jamais existiram as palavras morrem como devem luz fechada na rua cidade que não hei-de escrever (Accidentien) Buenos Aires no es la ciudad de los amantes al viajar las flechas se distraen el otoño llega a un lugar equivocado o no llega los barcos como pequeños cortejos entre palabra y palabra se beben el viento el odio la triste rosa sexual es difícil alcanzar el enigma que se es naturalmente la confusión de estar en un cuerpo nunca emigra a lo sumo buenos aires muere como una ciudad inclinada tienen miedo los barcos a no poder salir a no querer salir de la jaula obscena del lenguaje en realidad nada ha empezado todavía nada podría empezar cuando buscamos lo absoluto y no encontramos sino flechas distraídas es así no tan breve la cárcel no tan breve el cadáver de la rosa sexual para salir hay que entrar no por la izquierda sino por la izquierda los barcos mienten cuando escriben mienten cuando no escriben las decisiones toman un cariz un poco trágico oh Sócrates haz música un motín en el hogar del miedo no resuelve el enigma del miedo del hogar a lo sumo como esas flechas que llegan y nunca han existido las palabras mueren como deben luz encerrada afuera ciudad que no he de escribir {¿Dónde está la salida?}, do livro La morada imposible (Edição Corregidor, 2005)
Falta de escenario, do livro La ley tu Ley (Edição Adriana Hidalgo, 2002) (Accidentien), do livro Arte y Fuga (Edição Pre-textos, 2010)
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