GENEBRA 1
Na rue jean-violette tive uma varanda era pequena mas tive lá mais de dez pessoas a jantar acabámos com a tequila do antigo inquilino e contámos as luzes amarelas redondas estrelares que se mapeavam num ecrã a seis metros de nós é que o lado de lá da rua era uma parede perfeitamente infinita de varandas que sucessivas compunham um gentil dizer ventríloquo de origem indefinida e montanhosa coleccionámos as diferentes figuras entreabertas (o mafioso gordo em tronco nu e a mulher calada, o grupo de estudantes com flamingos e perucas decapitadas nos peitoris, a família barricada atrás de cortinas bem pregadas de bambu, o senhor que regava flores vermelhas e um dia desapareceu) é uma casa mono-orientada mas encantadora diziam todos os visitantes naquele tom que constata o ambiente em volta próprio das noites em que já faz calor sabíamo-nos observados assumimos a pose de quem partilha uma grande mesa acena a cabeça e faz um brinde discreto parte do encanto e se a este poema faltar uma certa escuridão ela está no pestanejar no intervalo nulo entre duas formas da mesmidade assim rendida disponível ao incauto que nele vir a diferença e a vontade de agarrar o modo o inargumentável modo do que existe * GENEBRA 2 Abraço como os conterrâneos o centrismo do lago fresco, constante onde boiam sobre as mesas longas populares pratos derretidos para cima das fachadas dos hóteis depois de um mergulho no umbigo e de um tram intemporal o 12 que vai para carouge é importante vivermos dentro do espírito da época diz-me um genebrino parecido com o lazio do morte em veneza, mas só no estilo e eu discordei com mais veemência do que é da tradição local citei uma coisa qualquer atraente ideia estrutural ou assim tanta pompa para o apartamento duas-peças de alcatifa verde-alface para que fomos convidados somos quatro e entreolhamo-nos em círculo eu desconfio já que posso estar errada aguardo o café diplomático e adio a decisão * GENEBRA 3 Não sei quanto mede o boulevard carl-vogt talvez três voltas ao mundo em pensamentos e rezas claustrais percurso diário da caminhante pelo paralelismo das vidas em investigação profunda e alheada do grau mínimo de domesticidade entre duas respirações do mesmo corpo e não só * Ele agiu com muita filosofia ah, diz-se assim em italiano? não, em francês e está correctíssimo pois, precipitei-me com filosofia, pensei deve querer dizer com elegância ou seja, tempo para a pergunta certa * Houve um atentado em bruxelas enviaste-me um smile triste eu mandei-te uma piano sonata do beethoven e o poema do herberto, aquele que fala da beleza um pack de humanidade para o consolo dos escombros e da íntima ilusão como a ternura almofadada dentro de todos os lugares por onde passou esta célula de dois soldados imperfeita linguagem secreta para a invenção e o testemunho de uma nova efabulação espaço-tempo desenhavas vasos como o morandi mas eu vou comprar uma roda bem oleada de oleiro * Faz de conta que comer uma maçã é só isto sem bicho sem pântano de fino dedo sobre a pele a eriçar a suspeição de gastar o fôlego em chama medianeira encosta-te ao muro do lote do lado de lá cinco metros abaixo alguém pare um filho o choro é real contra a erva e se as janelas estão de costas para o lugar logradouro o choro só pode ser agouro de uma obstinação luminosa rasteira da marginália escrevi: era um problema de hermenêutica o dos dedos no teclado e o das fronteiras o linguajar do par de jarras em ti pousado como múmias evidentes mesmo se com o sotaque reluzente de enrolar rebuçados que ainda ouço era um problema de geografia entre estar aí ou aqui vim por isso para dentro recebo a corrente de ar mas sei que sou estes ossos e mais adulta me inteiro livre se a mão se abre e o dizer se encaramela, peito aberto à bala húmida que vem, se a rua sobrevive a saber o que revolve no caroço do quarteirão, então o rufar que agora ouço a chegar à minha própria vista saguão existe, de facto existe e nada disto é estanque pode entrar chuva por todo o lado mas também pode transformar-se sim, só não assim não com a camuflagem do ego sob a carpete, assim não talvez com dedicação e uma peneira dos intensos agoras e saber disto foi um raio de sol de alívio e descarregue dos sacos para facilitar a gestação do gesto do arejar completo
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Novembro 2021
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