A minha proposta é uma amostra de um trabalho que se divide entre a arte antiga e a arte contemporânea. Parte do sonho, do projecto de construção do meu próprio museu pessoal, povoado de reinterpretações quer de obras de arte mais ou menos imediatamente reconhecíveis, quer de fotos de celebridades e mesmo de amigos. Enquanto africana (nascida na Guiné-Bissau, 1984) e tendo vivido em Portugal desde 1988, a minha experiência é, de certo modo, intimamente africana (em casa, através da língua, da música, da comida) e externamente europeia (na rua, através também da língua, mas ainda da escola, do trabalho, da consciência flagrante da diferença). O espelho talvez una estas duas extremidades. Este projecto começou como uma pequena brincadeira, e cresceu ao longo do tempo, através de inspirações e impulsos momentâneos, com ferramentas e acessórios de fácil acesso, um telemóvel ou câmara fotográfica de baixo custo e o apoio dos meus amigos. Quis fazer arte, ser arte, definir arte, independentemente do estatuto social ou económico. Ter uma voz e ocupar um lugar que parece, não importa quantos mais museus visite, na Turquia, em Espanha, na Irlanda ou em Portugal, apenas pertencer aos escravos e criados. Ora, o africano é mais do que isso. Merece mais do que isso. Quis, por um lado, colocar um africano num lugar de destaque na obra de arte e corrigir, se não a História, pelo menos os livros. Quis colocar-me no lugar do outro, fosse ele homem ou mulher, anónimo ou famoso. Defendo que qualquer um de nós poderia ser, precisamente, esse outro, na arte e em qualquer parte. Quis recriar um momento enquanto construía ou celebrava outro e o outro, aquele que não sou eu. Quis sobretudo olhar para mim mesma e reconhecer-me, dentro e fora de mim. Pertencer. Os últimos anos foram marcados por transformações emocionais, físicas, espaciais e materiais profundas. Este trabalho parcial que aqui apresento resume a necessidade de discussão, celebração e desmistificação de conceitos, crenças e etapas mas sobretudo da arte e da vida. ![]() Julio Romero de Torres, "Oranges And Lemons" (1927) Gisela Casimiro - "Só Laranjas pois não tinha Limões" (2016) Fotografia digital sobre quarto alugado em casa partilhada em zona histórico-turística, por vezes enfrentando o desemprego, por vezes tendo dois trabalhos para sobreviver. ![]() Johannes Vermeer - "Rapariga com o Brinco de Pérola" (1665) Gisela Casimiro - "Rapariga com o Brinco de Pérola Negra" (2018) Fotografia digital de negra sobre fundo branco. Elías García Martínez "Ecce Homo" (1930)
Cecilia Giménez "Ecce Homo" (2012) Gisela Casimiro - "Essa moça" (2017) Fotografia digital, máscara de argila branca sobre rosto negro enquanto penso na escravatura num sábado de manhã.
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Novembro 2021
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