"manifesto da poesia queer" de Jô Osbórnia

a poesia queer se baseia na revolução contrassexual de p. preciado 
isso quer dizer que a poesia queer é contra o vigente sistema sexo/gênero 
heterocentrista de civilizações ocidentais e orientais 
que levou a ditaduras heteronormativas, que levaram 
levam 
à morte de infinitos corpos que importam 
mortes políticas que a poesia queer haverá de reclamar 

a poesia queer traz o gênero para o âmago da poesia 
-- e o gênero se parece com o dildo 
vai além da relação imitado-imitador 
verdade-representação da verdade 
natureza-artifício 
órgãos sexuais - práticas do sexo 

a poesia queer vai além do binarismo 
da referência e do referente 
tal como ser bicha, ser sapa, ser drag, ser trans 
-- etcetera e et alia 
são brincadeiras perfomativo-ontológicas 
assim haverá de ser a poesia queer 
perversa, mutante pós-humana do sexo 
isto é 
deve contestar e derrocar as tecnologias sofisticadas de prescrição de 
significado 
oriundas de contextos sexuais, culturais, epistemológicos e políticos 

a poesia queer é o espaço que a linguagem da revolução contrassexual ocupará 
ou seja, se a poesia queer existe, hoje, a revolução já começou 
e as práticas revolucionário-contrassexuais 
do fist-fucking, da utilização de dildos, da erotização do ânus 
são metáforas indicativas do caminho que linguagem da poesia queer seguirá 

a poesia queer é apocalíptica no sentido do infinito que 
ou explodirá ou unificará 
porque a poesia queer assume que o gênero dilata, dilata, dilata 
e se expande, se expande, se expande 
e a poesia queer vai ser os gritos de quando isso tudo 
ou explodir ou unificar 

         a poesia queer rompe definitivamente com os arquétipos 
platônico-aristotélicos 
de gênero lírico, gênero narrativo e gênero dramático 
a poesia queer acredita na multiplicação ad infinitum deles todos 
a poesia queer acredita na mistura orgiástica ad infinitum deles todos 
-- todos, até a 
esparja 

​e nesse dia 
no dia do apocalipse da palavra 
a poesia queer não acreditará em gênero literário nenhum 
a poesia queer deixará de acreditar na poesia 
e a poesia queer morrerá ​

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