Poucas pessoas dão por ele.
Percebem-no aqueles que dormem Em nuvens macias como algodão. Confundem-no com a vibração Produzida pela passagem de um automóvel Lá em baixo na rua À hora da sesta. Oscilam os pratos na parede, Rugem as cruzes de madeira. A sensação é parecida com aquela Que produziria a passagem De um animal de longo curso. A maioria das pessoas começa A ter medo, dentro e fora das casas. Despertam os que dormem a sesta. O vinho derrama-se sobre as mesas Que ainda não foram levantadas. As maçãs giram conjuntamente Com os globos escolares, E o que não gira fica de pernas para o ar. O ritmo dos pêndulos enlouquece E morre. As criaturas vêem: vidros Quebrados, vasos partidos, Brinquedos e livros abertos Ao meio. Movem-se os móveis, Fendem-se as paredes, mexem-se As árvores e os arbustos, ouvem-se Os sinos pequenos das igrejas, Batendo uns nos outros como inimigos. É difícil morrer de pé. As melhores construções desabam. Ondas escuras turvam os lagos. Tocam desalmadamente os sinos E os instrumentos de tortura. Caem muros, Lamentos, Chaves, Monumentos, As colunas mais altas, As torres mais antigas. Deslocam-se casas, Cortam-se caminhos. As correntes nadam contra a corrente. Pânico geral. A base da sociedade, antes metafísica E cristalizada, cai pela base Como qualquer raciocínio indiferente Ao tempo. As regiões transformam-se Em pântanos. Os rios abandonam o leito. Correm livres, mas loucos. As vias férreas conduzem agora a bocas De lama profunda. Destruição E totalidade. Os níveis e as perspectivas Ficam alterados. Os vivos estão mortos.
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Novembro 2021
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