De Repente Califórnia
a verdade é que não tenho como regressar, you know, fingir que não é nada comigo, fazer de conta que a minha morada é a mesma, – que tudo se conserva inteiro na frondosa Ítaca –, a ser sincero é muito fácil deixar tudo pra trás, por exemplo, um post-it na porta a carregar o peso agudo da minha ausência: o pedro craveiro já não mora aqui e quem diz aqui diz no colo da minha mãe não há como enganar no caminho Porto – Los Angeles são exatamente 8.990,83 os kms que separam as coisas de lá das coisas de cá que partem a minha língua em dois repito, são exatamente 8.990,83 os kms que me afastam entre todas as coisas do teu sorriso de dentes tortos * Crónica Minolta misteriosamente feliz descia as ramblas com um joan margarit em mãos pra te oferecer não foi por falta de aviso não mas o meu peito erguia-se estreito, justo à chama acesa da minha camisa, e eu sabia que contra todos os oráculos ao fundo estaria o teu abraço, o hálito a fideuà, um perfume amadeirado, alguma sugestão modesta das nossas férias em Abu Dhabi com cuidado detive-me em pormenores que a poucos interessariam, por exemplo, os enleios de flores nos teus dedos tingidos de café e melados de donuts do dunkin’ coffee seguiam-se as minhas orelhas mareadas pela caruma do frio, o meu cabelo oleoso de dias de viagem, de horas dissipadas em aeroportos com uma única certeza: eu vim da califórnia pra te ver, do pacífico pra te beijar no mar de las baleares
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Novembro 2021
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