O corpo é um território
A palavra portuguesa bairro tem origem controversa alguns afirmam derivar de barra do latim, que significa divisão outros afirmam derivar de bárri do árabe, que significa exterior lugares cercados de terra pensam em divisões e exteriores o que vai para fora da terra o que há para o lado de fora como dividir espaços e se soltar uma península agarrada a um continente com uma palavra que torna todos os seus pequenos pedaços em exteriores e divisões soltos e contraditórios A aproximação entre os termos barra e bárri deixa tudo ainda mais terreno e confuso se quando dividimos somos o exterior ou a periferia de nós mesmos dentro e fora de uma terra que nos divide cada vez mais em bairros isso tudo em português a língua que minha cabeça divide e exterioriza aqui mesmo na sua frente Na língua tagalog o termo bairro não existe a língua tagalog é falada nas Filipinas e não usa nada parecido com bairro para dissolver seu território já dissolvido nas Filipinas o termo usado para denominar uma divisão administrativa é Balangay que significa um tipo de barco lugares cercados de água pensam em conexões e interiores o que vai para dentro da terra o que há para o lado de dentro como construir pontes e se prender um arquipélago solto como um continente com uma palavra que torna todos os seus pequenos fragmentos em interiores e conexões visitados por barcos e migrações O termo balangay pode ser abreviado brgy ou bgy pode ser usado como um pequeno pedaço de terra que se sente solto e precisa de um barco para se conectar com outra parte pendente no mar um único termo que significa barco e seu interior carrega a unidade fragmentada de um arquipélago que dividido se torna um único Um corpo é composto por 60% de água poderia ser ele um arquipélago uma ilha, mas também um continente com suas partes divididas em bairros ou então em balangays mais da metade água vencendo por pouco a terra Uma língua dissipada em três continentes Outra em 7107 ilhas entre bairros ou balangays Como um corpo em português poderia nomear seus braços que não bairros para sempre invadidos? Como um corpo em tagalog poderia nomear seu corpo que não bangalays para sempre atravessados? * Um rojão atado à memória Minha mãe me contou que um enxame de abelhas caiu de dentro do tronco de uma árvore podre na infância, distante, dois eram os meus medos dois barulhos insuportáveis a explosão da usina angra I e o enxame de abelhas africanas eram parecidos de alguma maneira não sabia ao certo a grande diferença entre morrer como o meu primeiro amor ou morrer como uma criança japonesa Na minha cabeça a onda de radiação chegaria junto às abelhas africanas aos poucos derretendo a pele que sorria imaginando ser um barulho qualquer a urgência de escapar de um enxame de abelhas é de fato maior quando ao redor as árvores apodrecem mais do que as usinas nucleares Imaginava a radiação chegando mais rápido e não em ondas junto aos movimentos ritmados das abelhas em enxame imaginava bastar esconder esperar passar infinitos minutos relembrando as batidas graves do som do rojão invadindo a pausa para o café Os ouvidos imaginavam o ruído da usina caindo o estalar do tronco podre tudo aquilo se parecia muito com tudo explodindo pelos ares e eu derretendo lentamente em uma memória esquecida As abelhas africanas previam em pavor o desabar da usina como um tronco oco E a cada ruído da usina angra I explodindo eu ansiava pelas abelhas que viriam antes matar as galinhas os gatos e os passarinhos e me salvar Hoje sei diferenciar o barulho de um rojão e acredito nas pesquisas que dizem ser a energia atômica uma das mais seguras do mundo e apesar de fukushima na serra um tronco oco e um enxame de abelhas seguem sendo mais urgentes do que a radiação da usina angra I
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Novembro 2021
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