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Texto de Francisco Topa sobre "Espigueiro" de Mafalda Sofia Gomes

28/11/2019

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Imagem
Mafalda Sofia Gomes – Espigueiro. Coimbra: Do Lado Esquerdo, 2019.

Num dos seus aforismos, escreveu Carlos Drummond de Andrade que os autores só deviam estrear com o segundo livro. Percebe-se a observação humorística: a história literária (e artística, em geral) está cheia de estreias falhadas, havendo muitos autores que rejeitariam mais tarde a obra das suas primícias. Mas não será esse, por certo, o caso de Mafalda Sofia Gomes. Em primeiro lugar, porque não se trata verdadeiramente de uma estreia: antes do volume em causa, a autora foi publicando poemas em revistas (eletrónicas e em papel) e também em volumes coletivos, para além de ter já escrito uma dissertação de mestrado sobre literatura alemã medieval e uma série de artigos científicos, maioritariamente também nesse campo. Por outro lado, porque, como veremos, este é um livro (e não uma mera recolha de poemas) e de uma autora que, sendo jovem, tem já uma consciência literária bastante amadurecida e um estilo bem definido, capaz de cruzar tradição com rutura, muitas vezes sob um imaginário medieval.

A primeira impressão que ressalta da leitura de Espigueiro é a de um eu, geralmente marcado pela juventude e pelo feminino, que se expõe de forma corajosa e provocante, apoiada na sua Arte Poética: “Dizes que os poemas começam todos da mesma maneira/ eu quero eu sinto eu quero// eu quero o pasmo da roupa lavada muito corada/ eu sinto-te chegar como a salamandra molhada” (p. 19). Estão aí expostas, de modo muito claro, as linhas orientadoras do volume, que de resto o título e a estrutura já sugeriam: Espigueiro (título do livro), Bulir e Baldio (designação das duas partes em que ele se divide) apontam para um discurso tradicional e conservador sobre a mulher e sobre o seu papel, perante o qual o eu lírico se situa, por vezes de modo combativo e provocativo, outras vezes com um olhar compassivo e terno, de quem – “agora que me furtei ao labor de mil ordenhas” (p. 38) – quer apenas partilhar a sua liberdade: “solta o gado, peço-te,/ pelo menos uma noite.” (p. 38). Esse é o mundo da Doutrina, palavra polissémica que, para além de significar um conjunto de princípios, é usada no sentido um tanto arcaico e rural de catequese; uma doutrina em que são transmitidos ensinamentos como: “afinal, a moral terá tantos casacos quanto cadeiras/ para nos sentarmos de pernas fechadas.” (p. 35).

A sucessão dos títulos – Espigueiro, Bulir, Baldio – descreve de alguma forma o movimento por que passa o sujeito no livro. Espigueiro é metáfora de pão, de pousio, de riqueza de futuro, como se percebe por este conselho que se lê em Reprodução I: “faz-te farta como/ um espigueiro na eira” (p. 39). Por seu turno, o Bulir – outro termo com o seu quê de arcaico e de rural – é caminho para esse espigueiro, ao passo que Baldio representa o seu contrário.

Não surpreende, pois, que nos surjam a espaços ecos de um mundo rural ou suburbano, geralmente marcado por valores conservadores e estereotipados, vertidos até em forma de aforismo, como por exemplo: “a melhor laranja/ é do teu marido” (p. 39). Face a eles, o sujeito reage de formas diferentes: às vezes cedendo a palavra e expondo-a em toda a sua crueza – “«A minha mulher não usa decotes/ porque tenho os decotes das minhas primas/ o calendário da cozinha onde não cozinho/ porque ela cozinha para mim” (p. 41); outras vezes com o humor doce da paródia – “Esperar que a broa cresça sem crescente/ não é coisa de boa gente” (p. 36); outras vezes ainda com a assunção clara do desejo sexual – “Não há homem/ que me coce/ porque o homem/ que me come/ dorme na nossa cama” (p. 23). Mas há também a recuperação do arquétipo da água que lava e leva: “Tenho tudo o que preciso/ a bacia azul, o sabão áspero,/ o corta-unhas e o boião de nívea” (p. 16). Esse lava-pés não é só uma forma de carinho e de reconhecimento da mulher mais jovem face à mulher mais velha; trata-se igualmente de uma espécie de transmissão de testemunho: “Pressinto que/ as coisas tendem elas correm/ para a sua coincidência// esse é o seu capricho/ escorregam diluídas com as chuvas/ os banhos as cheias” (p. 17-8). Note-se aliás que a imagem do lavar é recorrente na obra, tendo já aparecido na epígrafe, de Ana Paula Inácio: “guarda no seixo/ o teu maior segredo/ e deixa-o lavar-se/ pla água do rio/ que banhou pitonisas e freiras”. Surge igualmente em Terceiro mito da criação, como rito inaugural: “essas pernas que lavas/ frescas fundidas/ nas águas/ do mundo/ que começamos/ agora” (p. 22).

Outro modo privilegiado por Mafalda Sofia Gomes para dar conta da sua relação com o mundo atávico e conservador consiste no recurso ao jogo metafórico da grande tradição cultural e literária. Em Reprodução I, a subida de Moisés ao Sinai serve de referência para o processo de transmissão de leis de mulheres: “escrevemos o governo/ umas para as outras/ todas para o mundo inteiro” (p. 39). Também aqui a ironia está presente, inclusive na imagem final: “Descemos dos montes/ grávidas como um legislador” (p. 40). Outro exemplo de grande efeito ocorre em Blandina, em que a história da mártir cristã de Lyon é relida com uma luz de intensa sensualidade: “Ergo-me ampla e abro-me/ à fome, meu altar e tua arte/ na vez em que vou morrer: a multidão ferve e é hora.” (p. 19). É o caso ainda de ‘Bon fils, cher fils, beau fils’, belíssima interpretação do amor de Herzeleid pelo seu filho Parzival, o futuro cavaleiro do Graal, amor esse que vem marcado por um delicado erotismo: “Sozinha/ na plantação de arroz/ vejo submersa/ a minha saia de trabalho/ inchada/ da cobrinha/ lagarta bicha/ que te vi// Como podes/ infante menino/ medrar assim?” (p. 29).

São, pois, muito variadas as formas de representação do amor em Espigueiro, destacando-se como particularmente inovadoras as que resultam da releitura de figuras e textos medievais, nítidas afinidades eletivas de Mafalda Sofia Gomes. Caso particularmente interessante é o do poema O que diria Hildegard von Bingen?, que é bem mais do que uma espécie de homenagem à figura extraordinária da Sibila do Reno, a sábia e mística Santa Hildegarda. Reinterpretando a sua figura, a autora apresenta-a como mulher um tanto fora do mundo, cujas normas contraria: “Passeio-me do coro ao dormitório/ vou da torre à sacristia/ na cozinha danço sozinha/ bebo o vinho das galhetas/ limpo os pés aos manistérgios:” (p. 43). Algumas das imagens são tão expressivas como inesperadas: “O meu flanco é o arco da fortuna/ em que correm o tempo e a água/ daquelas que se lavam para morrer” (p. 43); ou “eu sou o olifante de Rolando” (p. 39). É este um dos poemas em que a condição da mulher é abordada de modo mais sardónico, o que é conseguido através da remissão para a imagem animal: “Vejo que as galinhas/ comem os próprios ovos;/ eu como as galinhas porque não tenho flexibilidade/ para comer os meus próprios ovos:// os meus ovos quebraram-se nas ogivas,/ os meus ovos quebraram-se.// Ninguém nunca ficou para ver/ os meus ovos estrelados.” (p. 44-5).

Outro bom exemplo da clave medieval é o poema II – Coita, uma espécie de variação sobre uma cantiga de amor de Pero Garcia Burgalês, em cujo centro está uma reflexão sobre o prazer do desejo e o risco da sua satisfação: “e se calha de la teer/ é mort’o gozo de a veer” (p. 52).

Reclamando-se herdeiro de uma longa tradição, o sujeito faz parte de uma linhagem definida desde o nascimento, que o afastou dos que “Não comeram as cerejas com bicho/ que a vida serve às raparigas/ Não foram expulsos da missa/ como os poetas da cidade” (p. 11). Não tendo querido aprender “cedo as artes da boa peneira” (p. 11), assume a contracorrente que, diferentemente do que escreve Adelaide Ivánova no posfácio, me parece ir além do feminismo. Sem dúvida que, como aliás já vimos, Mafalda Sofia Gomes expõe, ridiculariza e combate os estereótipos de género. E às vezes fá-lo de modo quase radical, como em Menarca: “gosto que as mulheres sangrem/ manchem/ a roupa interior/ sujem/ a borda dos dedos/ com que escrevem a palavra/ adiante” (p. 56). Mas o humor e a ironia empurram a contestação para uma outra esfera: “Salomé dança de pé/ Teodora te adora/ Gianna Maria, quem diria?” (p. 55). Em Recreio I, por exemplo, fica claro que tudo não passa de um jogo que começa na infância e que pode, portanto, ser revertido: “Os rapazes correm/ e as nossas mãos armadas/ são as mãos que aos rapazes estendemos” (p. 28). Neste último verso – “são as mãos que aos rapazes estendemos” –, que é um (inesperado) decassílabo heroico, está talvez sintetizada a forma singular de evitar o espigueiro que Mafalda Sofia Gomes nos propõe. Apesar da linhagem, o caminho é de cada um: “Quando nasci, não apartei ligeira/ o amigo do joio, a cautela da natureza/ Estendi-me branca na tábua antiga/ à moda do primeiro incêndio da estação” (p. 11).

Podemos assim dizer, para concluir, que estamos perante uma verdadeira autora, que se percebe ser também uma grande leitora, como o são todos os verdadeiros criadores literários. Uma autora que não esconde a sua filiação, como não esconde a sua singularidade: a oscilação entre uma naïveté simulada e a frescura de uma provocação medida, uma e outra temperadas com a capacidade de dialogar com uma longa tradição literária em que a Idade Média ocupa lugar central. Vale, pois, a pena estar atento aos próximos passos de Mafalda Sofia Gomes.

​Porto, 23 de novembro de 2019
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Três poemas de Bruna Mitrano e uma ilustração de Inês Viegas Oliveira

21/11/2019

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​quando você chega à idade
que te permite entrar
em novos cômodos
que te permite entrar
no banheiro com banheira por exemplo
descobre que as paredes da casa
da patroa não são tão brancas
quanto você acreditava
quando brincava com medo
de sujar as quinas
ou a bancada de mármore –
você pensava é uma grande pedra preciosa
quem dera eu tivesse um pedaço
de tudo que eu posso tocar
com a mão lavada
 
quando você chega à idade
que te permite
embora o corpo inexperiente
o braço fraco ainda
estender o edredom com peso de dois
do patrão com peso de três
ou mais suores
descobre marcas quase invisíveis
como manchas de iogurte
que nem a máquina de lavar
nem a mão grossa da sua mãe
conseguiram apagar
 
quando você chega à idade
de recolher as toalhas usadas
vê o encardido nas pontas
e percebe
esfregando as toalhas
(parecem de pelúcia)
no rosto
(parece de criança)
que sua mãe está velha
pra satisfazer os desejos dos donos
da casa e que logo será você
a satisfazer os donos
da casa que dizem é também sua
mas que você nunca conheceu inteira
nem nunca subiu na cadeira
brincando de a mestra mandou
coroada de raízes do quintal –
a cadeira, o chão, as paredes, os cômodos todos
sujos de terra.
 
*

sentei perto dos urubus
o homem que passava disse
eu tenho nojo de você
expliquei a ele que os urubus
procuram na carcaça
as partes moles e quentes
ele deu as costas xingando
e sacudindo as mãos
olhei pros urubus
eles também me olharam
complacentes com aqueles
olhos sem branco
o homem o seu corpo inquieto 
era como o animal que 
esperneia antes de morrer
sabíamos no entanto que ele
não morreria que ele estava
mais vivo que nós que não 
temos mãos nem pedras 
nas mãos pra atirar em quem 
nos causa repulsa apenas 
alguma intuição de encontrar 
partes moles e quentes.
 
*
 
a câmera em close na velha
a pele rachada do rosto em contraste
com a pele mole dos braços
 
do vestido se vê os ossos do peito
os seios dois sacos vazios
pendendo sobre a barriga
 
a câmera abre
vê-se um repórter com camisa de botão
de cor tão clara como sua pele tão clara
 
o repórter parece um erro
na casa de taipa
 
a velha mexe a sopa com uma colher de pau
é sopa de quê
de papel
 
close nos olhos de espanto
do repórter que já sabia a resposta
 
por que a senhora está cozinhando papel
porque não tenho comida
mas por que a senhora está cozinhando PAPEL
o repórter repete
pra causar nos telespectadores
aquele nó na garganta
 
porque tenho filhos e netos
diz a velha esticando o pescoço
onde guarda uma garganta
aparentemente sem nó 
aparentemente sem constrangimento
de dizer a própria fome
 
a câmera passeia pela casa
panelas e canecas empilhadas
um instrumental triste
e o narrador dizendo que três semanas depois
a velha morreu
 
 
 
andei de um lado pro outro
o que foi garota
não pode acabar assim
não é um filme é a vida real
 
e na vida real
eu tinha seis anos
eu não conhecia o gosto do papel
 
por que o repórter não deu comida pra velha
porque ele não tinha comida com ele
por que não voltou pra dar comida
porque ele mora longe
por que não mandou pelo correio
porque não se manda comida pelo correio
por que ele não pegou comida na casa longe dele
                                                                                         e voltou pra dar pra velha
ora porque ele tem mais o que fazer
então por que ele foi na casa dela
hã
se ele tem mais o que fazer
 
close no rosto passivo da minha mãe
é assim a vida é assim
 
mas ela morreu
todo mundo morre
não quero morrer com esse engasgo
que engasgo
não sei deve ser o papel
 
 
na escola passei a brincar de comidinha
socava folhas de caderno na panela de plástico
 
tá cozinhando o quê
perguntou a colega chata
papel
dã tô perguntando o que você tá cozinhando
                                                                                 de mentirinha
papel
                    eu tô brincando de verdade
 
ela virou os olhos
e saiu cantando
uma música alegre
eu bati nela
 
close na cara de espanto da diretora
ela diz não esperava isso de você
            tão boa aluna tão quieta
            por quê
 
porque ela estava alegre
e qual o problema de estar alegre
o problema é que o narrador disse que a velha morreu de desnutrição
                                                                                                             mas eu acho que ela morreu foi de fome
 
close na cara de todos
um por vez segurando
o riso de deboche
tão boa aluna tão quieta mas doida coitada
                                                                   igual a mãe.
Imagem
A ilustração foi concebida a partir do poema "quando você chega à idade" para A Bacana.
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Três poemas de Bruno de Abreu

18/11/2019

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Certas paisagens sempre voltam a nos deter 
sobre o capacho da memória 

A noite então redunda 
num ar espesso de redoma 
mas o que é que procurávamos
proteger?

Havia uma certeza 
emborcada nas palavras 
de antes? 

Sei que o amor costumava 
ser mais um canteiro entre tantos
e o sol ardia como qualquer esfera arremessada

Mas então o tempo se contava 
ainda em dias e meses 
não em anos e sussurros

Sim, certas paisagens continuam 
a mover-se sob o tempo  
das partidas

Todavia agora andamos 
por entre os pensamentos 
como poços cheios de segredos 


*


É com as imagens mais distantes
que retemos os rostos dos amigos
pois tudo o que amamos
é lonjura interrogada

Com isto quero dizer 
que da espera a pele do amor 
se arrebata

Uma abelha zumbindo, um silêncio
esmigalhado 

(com isto quero dizer)

não podem se igualar à persistência
do amor que se enraiza 
na palavra 


*


Transumância 

Para que haja um modo 
de correr as distâncias sem dobrá-las
E de amainar o fogo 
a fim de que avance pelo silêncio 

Para alcançar a combustão das chaves
na ideia de uma porta
Para libertá-las
e segurar a distância com as mãos

Para aprender a crepitar 
uma passagem 
como a uma casa

Para fazê-la vir abaixo. E habitá-la 
à maneira do vento
na migração das cinzas

​
Ver Perfil de Bruno de Abreu
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Em busca do silêncio peregrino - Sobre o livro "Desmatéria" (Edições Macondo, 2019), de Sofia Ferrés, por Caio Augusto Leite

11/11/2019

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É um erro de linguagem, diz Sofia Ferrés acerca do ato de nomear um cão de “cão”. E essa é uma das linhas de força ao redor da qual se desabrocham, página por página, os poemas de Desmatéria (Edições Macondo, 2019). Há, além da desconfiança em relação ao signo, um desejo de se divorciar da cultura humana para encontrar além dela os sentidos originais da existência (“dom de viver sem ciência/ desocupar os olhos do mapa”).
Partindo de elementos sólidos, palpáveis, terrenos até os mais leves, aéreos, voláteis – daí a desmatéria do título –, a poesia de Sofia se arrisca ao dizer não aquilo que é, mas aquilo que seria, não fosse a existência dessa mesma poesia, pois mesmo a palavra em arranjos não ortodoxos é insuficiente para nos mostrar a beleza que o pensamento não alcança (“nesse novo Tempo/ todas as figuras/ como que são outras coisas:/ muito mais belas/ que o imaginado”).
Há, também, o reconhecimento de que a existência é imprevista (ao menos para nós, que não podemos inteligir a mecânica dos acasos), daí saber que “cada dia uma construção”, ou seja, que os instantes se fazem em processo, o tempo não está no planejado e, assim como um livro, deve ser construído com a necessária paciência “palavra por palavra”.  E mesmo assim saber que há o risco de ofuscar a realidade “se reúno mal as palavras”, como um caminho que se toma por engano e acaba chegando a outro destino. 
Pode ser que os sentimentos sejam as únicas ferramentas que temos para acessar o que não se limita a sons e sentidos, pois “o amor enfreia as palavras”. Pra quê dizer quando os corpos em contato intuem significados que superam a superfície da linguagem? Ao que parece, o mistério nos revela enquanto explicar acaba ocultando um pensamento “e sufoca-o veloz num poema”.
Sem poder participar do Tudo a partir das palavras, é no silêncio (no arredio silêncio) que a busca se faz, na volatização do ser que se congraça com o natural, superando explicações racionais a partir de sensações que só o corpo entende, sensações que superam “a mais ambiciosa explicação matemática”.  
Da existência mais terrena, palpável, delimitada por data de nascimento, nome, nacionalidade e todos os índices que nos identificam como um ser no mundo (desse mundo) e uma vez que “as palavras/ deixam muito a desejar”, o sujeito poético parte em busca do múltiplo. Indo contra a harmonia leibniziana que diz que vivemos no melhor dos mundos possíveis, a poesia de Sofia rompe, por um momento, com a solidão das mônadas e deixa todas as combinações da existência em ato. Nessa colisão extrema, onde tudo é agora e o sujeito se transubstancia no máximo de si mesmo (inclusive o não ser), somente a poesia poderá realinhar a ordem de um mundo no qual possamos habitar com nossa incapacidade intrínseca de sermos tantos: “estou no centro de tudo/ até que um poema me conclua”.
E mesmo que retornemos ao que seja rotina e percamos esse instante de silêncio em que palavras são dispensáveis, que saibamos não esquecer totalmente do que vimos e possamos de vez em quando alterar um pouco o ângulo dos nossos vícios de posição.    
Ver Perfil de Caio Augusto
Ver Perfil de Sofia Ferrés
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Seis poemas de Inês Morão Dias

5/11/2019

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GENEBRA 1

Na rue jean-violette
tive uma varanda
era pequena mas
tive lá mais de dez
pessoas a jantar
acabámos com
a tequila do antigo
inquilino e
contámos as luzes amarelas
redondas
estrelares
que se mapeavam num ecrã
a seis metros de nós
 
é que o lado de lá
da rua era uma
parede perfeitamente
infinita
de varandas que
sucessivas
compunham um gentil dizer
ventríloquo
de origem indefinida
e montanhosa
 
coleccionámos as
diferentes figuras
entreabertas
(o mafioso gordo em tronco nu e
a mulher calada,
o grupo de estudantes com flamingos
e perucas
decapitadas nos peitoris,
a família barricada
atrás de cortinas
bem pregadas
de bambu,
o senhor que regava flores
vermelhas e um dia
desapareceu)
 
é uma casa
mono-orientada
mas encantadora
diziam todos os visitantes
naquele tom que
constata o ambiente em volta
próprio das noites
em que já faz calor
 
sabíamo-nos observados
assumimos a pose de quem
partilha uma grande mesa
acena a cabeça e
faz um brinde discreto
parte do encanto
 
e se a este poema faltar
uma certa escuridão
ela está no pestanejar
no intervalo nulo entre duas
formas
da mesmidade
assim rendida disponível
ao incauto que nele vir a diferença
e a vontade de agarrar o modo
o inargumentável modo
do que existe
 
*
 
GENEBRA 2
 
Abraço como os
conterrâneos o
centrismo do lago
fresco, constante
onde boiam sobre
as mesas longas
populares
pratos derretidos para
cima das fachadas dos
hóteis
depois de um mergulho
no umbigo
e de um tram intemporal
o 12 que vai para carouge
 
é importante vivermos dentro do
espírito da época
diz-me um genebrino
parecido com o lazio do
morte em veneza, mas só
no estilo
e eu discordei com mais
veemência do que é
da tradição local
citei uma coisa qualquer
atraente ideia estrutural
ou assim
 
tanta pompa para o
apartamento duas-peças
de alcatifa verde-alface
para que fomos convidados
somos quatro e entreolhamo-nos
em círculo
eu desconfio já
que posso estar errada
aguardo o café diplomático
e adio a decisão
 
*
 
GENEBRA 3
 
Não sei quanto mede o
boulevard carl-vogt
talvez três voltas ao
mundo em
pensamentos e rezas
claustrais
percurso diário
da caminhante
pelo paralelismo das
vidas em
investigação profunda e
alheada
do grau mínimo de domesticidade
entre duas respirações
do mesmo corpo e
não só
 
*
 
Ele agiu com muita
filosofia
ah, diz-se assim em
italiano?
não, em francês
e está correctíssimo
 
pois, precipitei-me
 
com filosofia, pensei
deve querer dizer com
elegância
ou seja, tempo
para a pergunta
certa
 
*
 
Houve um atentado em bruxelas
enviaste-me um smile triste
eu mandei-te uma piano sonata do
beethoven
e o poema do herberto, aquele que
fala da beleza
um pack de humanidade
para o consolo
dos escombros
e da íntima ilusão
 
como a ternura
almofadada dentro
de todos os lugares
por onde passou esta célula
de dois soldados
imperfeita
linguagem secreta
para a invenção
e o testemunho
de uma nova
efabulação
espaço-tempo
 
desenhavas vasos
como o morandi
mas eu vou comprar
uma roda
bem oleada
de oleiro
 
 
*
 
Faz de conta
que comer uma maçã é
só isto
sem bicho
sem pântano de fino dedo sobre
a pele a eriçar a suspeição de
gastar o fôlego
em chama medianeira
 
encosta-te ao muro do lote
do lado de lá cinco
metros abaixo
alguém pare um filho
o choro é real contra a erva
e se as janelas estão de
costas para o
lugar logradouro
o choro só pode ser agouro
de uma obstinação luminosa
rasteira
da marginália
 
escrevi:
           
era um problema de hermenêutica
o dos dedos no teclado e o das
fronteiras
 
o linguajar do par de jarras
em ti pousado como múmias
evidentes
 
mesmo se com o sotaque reluzente
de enrolar rebuçados
que ainda ouço
 
era um problema de geografia
entre estar aí ou aqui
vim por isso para dentro
 
recebo a corrente de ar
mas sei que sou estes ossos
e mais adulta me inteiro livre
 
se a mão se abre e o dizer se
encaramela, peito
aberto à bala húmida que vem,
 
se a rua sobrevive a saber o
que revolve no caroço do
quarteirão,
 
então o rufar que agora
ouço a chegar à minha própria
vista saguão
existe, de facto
existe
 
e nada disto é estanque
pode entrar chuva por todo
o lado mas também
 
pode transformar-se
sim,
só não assim
 
não com a camuflagem
do ego sob a carpete,
assim não
 
talvez com dedicação
e uma peneira dos
intensos agoras
 
e saber disto
foi um raio de sol
de alívio
 
e descarregue dos sacos
para facilitar a gestação do gesto
do arejar completo
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