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A BACANA

Três poemas de Ágnes Souza

30/11/2018

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III

vou te dizer, meu bem
como é fácil acertar alguém na cabeça no ombro esquerdo
e até no coração
é preciso disciplina e
antes de mais nada a vontade de provar coragem
olhar bem nos olhos e acertar o peito
[em poucas tentativas]
acordar todos os dias às 5:53 da manhã
pra provar que ainda é possível preservar
a mira de anos atrás
rápida intrépida e certeira
a sede e o receio de acertar sem ser acertado
sabe o mais difícil é acetar os pés e as mãos inquietas
eu apostaria uma grade de cerveja
no bar aqui perto assim que conseguirem
o aval dos bombeiros para reabertura
que tu consegue acertar mais rápido meu peito
do que eu alcançar teus pés
eles estão cada vez mais fincados em terra
meu peito cada dia mais aberto na tua direção
e manso
sem correr risco de fazer bom marinheiro
eu cronometrei aqui e ganhei a aposta
é difícil acertar teus pés quando eles só se mostram
pra mim como raízes
concreto
mistura de brita com cimento
e meu peito cansado
toda vez que é acertado pela tua cabeça
fica mais lenta
tenta se agitar pular a faixa de areia
e quebrar a calçada que teus pés formaram
mas recua
quer ser maré baixa pra molhar teus pés
e se agita
quer ser maré alta para alcançar tuas mãos
ser tocado por elas
mas o que eu queria mesmo
era que tua boca acertasse a minha
em cheio em tempo recorde
mesmo que eu já tenha jogado o cronômetro fora.


*


IV

incrível o poder de cura das raízes
viver imerso à tanta terra
vez ou outra absorver o que vem de cima
a fim de enriquecer o todo que lhe cabe
incrível a força das raízes
o delicado quebrar de calçadas que nem deveriam estar ali
ter a coragem de se expor sinalizar que mesmo o mais profundo pode ser visível
cortam-se seus troncos mas as raízes se sustentam
podam-se as folhas mas as raízes fazem com que elas brotem ainda mais bonitas
incrível a dor de uma raiz quando morta
sem raiz tudo morre
sem qualquer tipo de profundidade as coisas flutuam
e flutuar precede a queda e a queda não metafórica
o risco da ausência de raízes é a produção em massa de abismos
no abismo nem sempre se tem alguém para recolher os corpos
no abismo é tudo terra tudo pedra ou tudo água
nas raízes tudo se mistura para o bem ou para o mal
incrível o dificuldade de compreendermos as raízes
de enxergá-las e achá-las incríveis
como tudo que não se mostra às claras
ser raiz  é se distanciar do que é fácil
talvez dissesse uma raiz se pudéssemos entende-las
um broto de feijão consegue fixar raiz em uma bola de algodão
a árvore da rua da união foi cortada pelo risco das suas raízes fora do solo
a árvore poderia cair em cima dos carros
profundidades em pleno risco
alguém migrando de uma cidade para outra
alguém admitindo amor
tudo que quebre fixe e ultrapasse a parte rasa da piscina
incrível o perigo das raízes.


*


V

cabeças para fora dos apartamentos e das casas
janelas apagadas
que loucura todo um mundo parar para olhar a lua
olhar a lua fazer um movimento natural
será que ela sabe o fascínio que as pessoas têm por movimentos naturais?
será que ela sabe que toda uma gente olha para ela?
eclipse é um exercício de repetição com pausas
às vezes pausas seculares
e essa estrela ao lado dela?
minha mãe sempre me disse que é um planeta
um planeta de vigília
ver um planeta a olho nu é uma graça
ver a lua se descobrindo é um plano que deu certo
dizem que no eclipse da lua de sangue é melhor não botar intensidade em nada
a lua de sangue veio sob um sol regido por leão
não me peçam para acumular intensidade
faz mal
a lua se descobre aos poucos e eu fico pensando em que ponto da descoberta tu olhou para o céu
em algum momento tu olhou para cima?
agora a lua é metade sim metade não
metade brilho metade pólvora
em algum lugar do país chove e não é possível ver a lua se descobrir
em algum lugar dentro de mim se aloja a incapacidade de passar muito tempo olhando pra lua
e eu não sei por que
na rua ao lado uma criança gargalha sem dar a mínima para o eclipse ou para as pessoas com as cabeças para fora de seus apartamentos e de suas casas
em que ponto do estado tu tá? tá acabando o tempo
em que ponta da vida a gente tá? tá acabando o tempo
tá tudo muito silêncio e na rua ao lado a mesma da criança gargalhando alguém grita:
- damião, vem ver o eclipse, ainda dá tempo.
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Três poemas de Danae Sioziou (traduções de Joana Gomes e Michel Kabalan)

27/11/2018

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Imagem
Danae Sioziou nasceu em 1987 e cresceu entre Karlsruhe, Alemanha, e a cidade de Karditsa, na Grécia. Vive e trabalha em Atenas como promotora cultural. É co-editora do jornal literário Teflon. Tem poemas traduzidos em oito línguas e os seus poemas foram incluídos na colectânea de poesia contemporânea grega Austerity Measures (Penguin, 2016).
Estas são as primeiras traduções dos seus textos para português. 



Οικιακά – Trabalhos domésticos

Se calhar não percebeu
E nem reparou
mas continuou a cortar as mãos
depois de descascar as pêras.
O sangue fluiu com gentileza
pelas linhas do destino da vida do coração
até ao ralo
rodopiando entre pratos sujos e restos de comida.
Aproximou-se inquieto
o seu gato
com uma compaixão sincera
começou a lamber as feridas
enquanto por um breve momento
ela se contemplou no reflexo vítreo dos olhos felinos
uma estrangeira
presa numa gaiola suja
um telhado que não conhece o nascer do sol
pequenos besouros no chão
e na pia as mãos encharcadas num lago escuro
que agora brilha
coroado com a espuma branca do detergente.
Das profundezas da pia
nascem todas as luas cheias
as luas brancas
pensou
deixa-me ao menos acabar a louça hoje

Danae Sioziou (Grécia, 2008)
Publicado em  'Austerity Measures: The New Greek Poetry' (NYRB Poets, 2017)

https://youtu.be/k_PtsaEBfaI


*


Um assalto (2018)

Ao abrir a porta da minha casa
vejo que a poesia é um privilégio
como os brinquedos caros da infância
ou a enésima audição da tua música favorita
em condições acústicas perfeitas
como um beijo dado pelo amor da tua vida
como milhares de póneis brilhantes
como a vida noutros planetas
como o mel que se dissolve completamente numa chávena de chá
como rebanhos de trovões à distância
Eu gosto de escrever poemas
porque escuto o começo da minha morte
mesmo que as pessoas não gostem ouvir poemas
Eu gosto deste som
a maneira como se põe em ordem as palavras
a maneira como assaltam uma casa segura
Gosto de escrever poemas
a maneira como os gatos gostam de se lamber ao sol
e eu quero ser boa nisso.
eu quero ser boa nisso.


*


A Flecha (2010)

Anda cá e brinca comigo. Desabotoa os meus botões um por um e por cada um deles contar-te-ei um sonho. Verás como as minhas costas nuas formam um arco. Por desenhar. Quando puderes, tenta esculpir aqui, peço-te, uma flecha.

publicado em 'Useful Children’s Games', Harlequin Creature, New York 2016
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do levante ao poente
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Três poemas de Camila Assad

24/11/2018

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[where poets don´t go]


você me fala sobre os rastros
é impossível viver sem deixar vestígios
eu queria partir                                              (pra onde?)
mas as células mortas que caem do meu corpo
o tempo todo
anunciam que estive aqui
                                                                                                                                                                                                                                                                                               & ali
os fios de cabelo soltando-se
tocando os chãos
demarcam os territórios
nem sempre conquistados
como mijo de cachorro

meus passos num all star vermelho
fincam bandeiras nas crateras das ruas
nada
e tudo me pertence.


*


nos enganaram de novo
a gravidade não é uma força
e sim uma distorção no espaço-tempo.
faço escambos teóricos com einstein
explico-lhe a poesia tosca do vento e
dos sonetos alexandrinos;
ele me conta que o sol não pega fogo

apenas emite energia por fusão nuclear,
a terra não gira em torno do sol
mas em torno de um centro de gravidade
formado por todos os planetas do sistema solar
e esse ponto pode estar fora do próprio sol

desacorçoo e falo do som dos passarinhos,
da linguagem carregada de significado
até o mais alto grau de compreensão humana,
dos risos espontâneos dos bebês recém nascidos,
da terapia wittgensteiniana esclarecendo conceitos
fundamentais do campo educacional.
o velho albert sorri e depois como uma criança
impaciente e deseducada mostra-me a língua.


*


comer a chuva
com o estômago vazio
mais uma vez

pingo
a pingo
até sentir sede

correr ao relento
desafiando os resfriados
que chegam mais fácil
com o avanço dos anos

sentir o solo nu
nas solas nuas dos pés
plantar-se
sem deixar raízes

se acostumar com o silêncio
jamais acender as velas
ou os lampiões
não sorrir à toa
gastar as horas
contemplando o
pasto árido

o dia de amanhã
vai ser inédito
igual a todos os outros
que já vivemos
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Cinco poemas de André Edson

21/11/2018

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Máscara em carvão

Com firme leveza o polegar e o indicador da mão direita seguram o lóbulo de cá.
Os dedos da mão esquerda agarram sob a lateral do queixo, e ajudam a destacar o caos.
Descolando em direção oposta aos anos em cativeiro. Da direita para a esquerda.
Enquanto tombam a língua e os globos, enquanto se afunda e se afoga na expectativa,
                                                                               fuligem vaza das órbitas.
Já no outro extremo não se enxerga nada suspenso.
Nem estruturas de giz que deveriam apoiar nosso ponto de semelhança.
Enxerga-se o que eles são:
Nosso dorso seccionado em fatias atlânticas.


*


Apartado

Acontece que hoje sinto-me apartado da semelhança.

Minha comunicação formou-se estrangeira,
Falta-me a coragem nos dentes para oralizar o mundo.
Não tenho mito fundador que me represente.
Questionáveis heróis de questionáveis virtudes
Têm aqui seus nomes eternizados.
Sinto-me apartado da semelhança,
A terra não queima sob meus pés,
Trovões emulam peitos alheios,
Minha cor não é tua.

A única superfície de contato
A identificar é o trauma pretérito.
O dorso atlântico reafirma a distância
De quem foi posto a partir
Para estampar outra paisagem.

Sinto-me apartado de mim
E dos outros que enxergo sob o sol
Que, for onde for,
Não me pertence.


*


Manequim

Imagem concreta

Eu me banho em sua beleza.
Para mantê-la mascaro a virtude,
Abraço a vaidade.
Texturas sóbrias com adornos de hipnose.
Diante de mim: a infinitude.
Sem comunicação somos eternos.

Moldura neotropical

Esta beleza não te pertence;
Não me pertence.
A realidade me mastiga
Porque a verdade te evanesce.

O corpo, o movimento

Alguns morfemas em rotação
Arquitetam a estrutura dos músculos de sua face
Para a abjeta censura da natureza.
Para ti murchou o coração hipertrofiado.
És fantasma opaco,
Manequim de ilusão.


*


Balão vermelho

"Quem quer brincar
põe o dedo aqui,
que já vai fechar
o abacaxi."


E foi dada a largada:
Pequenos em debandada.
Eufóricos, pertencentes
Cada um a mesma agitação.

O mundo inflava e se desmancha nos braços da mãe
Como retribuição ao que o dia oferta.

O tempo correu tanto (corremos tanto),
Cansou tanto (cansamos tanto),
Que não houve tempo para lembrar
Qual a ventania que nos deslocou.

Não existia a ideia do núbio e o que ele carrega.
No entanto já existia a cor, a preterição.

A hora era de brincar e deixar passar.
Os grandes não queriam dor em nosso espírito.
E que os piores dias fossem como aquele do balão perdido.

Longe, na distância da memória,
O mundo era um balão vermelho.


*


Desencantamento

O chão fora cuspido
Três vezes
Pela mesma boca.

Dizeres de promessa para que não falasse,
E que nada emitisse se a tal ousasse.

Assim bruxas e bruxos sujos
Ameaçam de crianças a marujos
Que despedaçam juntos suas ganâncias
E segredos, sem medo do espiritual degredo,
Em desafio à comunicação.

"Que fique roxa a língua
E finda rota a boca em inanição.
Não beberás da poça, Não comerás do pão.
Não dirás 'não', muito menos 'sim'.
Cuido que tal seja teu único fim".

A musculatura inchada, seca e porosa,
Resiste à cultura da praga rogada.
Reage, flexiona, ofende e ovaciona.

Para sempre desarticulada a vontade do calar.

É o que se pretende dessa gente que invade
A barreira posta entre dentes.
É o que se entende.
O que se defende
De qualquer feitiço três vezes cuspido.
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"Mas primeiro, o coração", de José Magro

19/11/2018

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Mas primeiro, o coração from José Magro on Vimeo.

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