Esta coluna pretende estabelecer um diálogo entre a Poesia e as Artes Visuais, recorrendo a técnicas de colagem para a interpretação visual de poemas (ou excertos de poemas) de autores lusófonos. Colagem 1:
Silva, Bruno M.; A Bacana; Poemas Reunidos I, 2019, p. 15 Colagem 2: Aquino, Laís Araruna de; A Bacana; Poemas Reunidos I, 2019, p. 28 Colagem 3: Francisca, Camelo; A Bacana; Poemas Reunidos I, 2019, p. 20
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As melhores laranjas são
as mais próximas do firmamento Os melhores dióspiros, aqueles que lhes falta um segundo para tombar Limões, os pardais não os bicam Pois Ícaro fez o mesmo com o sol E é por isso que queimamos velas nos cemitérios E nos restaurantes orientais Os pêssegos e as maçãs e as pêras viram-se para o sol Para se dourarem, exibindo a nudez das suas perversas doçuras Ninguém ainda compreende as ameixas Que (eu) como quentes sem as lavar Quanto às nozes, são tão nossas Como a traição dos figos Ou o voyeurismo dos kiwis. Um gomo de tangerina
Basta lamber a nervura que relampeja em ambos os lados de um gomo de tangerina e segurá-lo entre os portais dentados da boca, girando como um trinco a chave da língua no lóbulo de uma orelha amada - isso basta, demorar a comê-lo, para que a magia já não se crie, e nela se creia. Un gajo de mandarina Basta con lamer la nervadura que relampaguea a cada lado de un gajo de mandarina y sostenerlo entre los portales dentados de la boca, girándole en cerrojo la llave de la lengua como al lóbulo de una oreja amada - basta con eso, demorar el comerlo, para que la magia ya no se crea, y se cree. * O Puma Quando fui sentar no bosque surgiu o puma: me come? Me aconchega? Sabe do amor e da maravilha que dissipam o medo nesta mente atrás destes olhos que o veem? Ouço dois ossos da minha perna rangerem como um tubo de ensaio quebrado no laboratório da escola e seu ronronar, sua beleza feroz, debaixo da minha mão inundada de pelagem ocre dourada. El puma Cuando fui a sentarme al bosque y me salió el puma, ¿me come? ¿Se me acurruca? ¿Sabe del amor y de la maravilla que disipan el miedo en esta mente detrás de estos ojos que lo ven? Oigo dos huesos de mi pierna crujir como tubo de ensayo roto en laboratorio de escuela y su ronroneo, su belleza feroz bajo mi mano anegada de pelaje ocre dorado. * Avó Blanca Rosa prostrada vai orgulhosa em pé na praia com pés descalços sobre a areia quente que lega como veludo negro. Se despede da roupa feita com suas próprias mãos, tira a dor e as agulhas, os tumores como botões, se despe inclusive de quem era para não se reconhecer mais e se amar do mesmo jeito (não posso me despedir de ti, mas te receberei) se quiser tornar-se minha filha que ainda não nasceu. Abuela Blanca Rosa postrada partes orgullosa de pie a la playa con pies desnudos sobre el arena caliente que heredas en terciopelo negro. Te despides de la ropa hecha con tus manos, te sacas el dolor y las agujas, los tumores como botones, te desnudas incluso de quien eres para no reconocerte más, e igual amarte (no te puedo despedir, pero te recibiré) por si quieres volverte mi hija que todavía no nace. * Declaração de amor Tarde demais é quase muito cedo e desligo minha janela. A única janela acesa então, vejo-a agora que desligo minha janela. A única outra. Agora é a única. Já não é a única: acendi minha janela para declarar meu amor. Declaración de amor Muy tarde es casi muy temprano y apago mi ventana. La única ventana encendida entonces, la veo ahora que apago mi ventana. La otra única. Ahora es la única. Ya no es la única: encendí mi ventana para declararle mi amor. |
Histórico
Novembro 2021
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