ás 9:58 o meu cuarto é a escena dun crime.
fallou o asasino e tamén iso de que sempre volve. na ducha achégome ás paredes e atópoas por contacto, cos ollos pechados. chámolle proximidade á distancia coa parede pero non llo chamo a un café tras tantos anos. chámalle, se queres aterse aos modelos deslizarse por outros corpos apartar as mesas e as cadeiras dar espazo á xente. chámalle boa vontade ao que eu lle chamo querer facerche dano querer morderte. * ás 13:13 acendo o aspirador e paseo o seu ruxir por toda a casa. atopei debaixo do sofá a bufanda que che tecín para que fose a prolongación eterna dun abrazo. a bufanda coa que fixemos un niño de merlo unha noite demasiado fría para ser de maio. * ás 18:25 vou espindo as patacas co pelador verde que me mercaras porque es un chafalleiro e deixas a metade da pataca na prana e para remedialo fuches correndo ao bazar da rúa do lado, escolliches o verde, paraches por unha barra de pan camiño da casa acórdome porque a comemos a bocados mentres eu ía batendo os ovos. tan pouca tortilla ti dicías non ten moito sal e eu dicía que ben lle chegaba que o sal sobe a tensión e que se non a comías era porque xa non tiñas moita fame e que un morre pola mesma boca que logo usa para bicar ata romper a pel finísima dos beizos. bicabamos xa pouco neses días bicabamos como comiamos a tortilla sen sal porque xa non tiñamos moita fame.
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três poetas
com um poema simplório o poeta disfarça pretensão só escreve em caso de tédio e se rima ruim é por opção com um poema médio o poeta pode ser qualquer outro pisca os olhos pretos de novo e a lua prata bate no prédio com um poema pomposo o poeta se leva muito a sério é lido no hall por um amante maldoso que imita a voz do pica-pau * sustos & sustos de pelo menos um susto todos nos recuperamos o que muda é o conteúdo que fica sobrando no chão quando espremido o susto de um esguicha repelente e algodão o de outro deixa um rastro de fruta pequeno cachorro sacrificado mas olha este que engraçado explodiu orfanato e caco de vidro * uma casa por ano numa casa com aluguel atrasado falamos da chuva de granizo numa casa movediça o despertador toca mais cedo de uma casa com incêndio você talvez não saia a tempo numa casa no deslizamento morremos pensando que pena numa casa pequena não cabem os panos de prato sem uma casa arejada você cheira a cachorro molhado numa casa sem amor todos arrumam outros planos numa casa às pressas tem coisas que você deixa numa casa por ano é melhor nem abrir essas caixas * o que enfim vai destruir a aspereza será ave? gaivota que na janela se revela pomba mesmo assim um voo impressionante será vontade? um sentido repentino que assalte a coragem de tirar a roupa antes será ônibus? semileito ou leito-cama de bruços ninguém chega longe será homem? surgirá no carnaval de peruca? conseguiremos nos ver no meio da ponte? será água? submersos por acidente voltamos no tempo e talvez encontremos a concha 馬
Um sutra ao ouvido de um cavalo. (antigo provérbio japonês) * casa ocupada Não é que andas outra vez a fazer vodu No quarto das crianças Não te enganes Uma casa em ruínas Ainda é uma casa * os miúdos salgados Os miúdos salgados tinham uma casa em Aljezur E apareciam todos os dias antes do sol nascer Na costa Com uma carrinha Alguns fumavam ganzas Outros bebiam sumo Outros ainda dormitavam E assim que se sentia A brisa da luz Rasgavam-se em lâminas de neopreno E atiravam-se Frenéticos À ondulação Explodiam em braçadas sobre as pranchas E ao longe pareciam Pequenos grandes Deuses Fugazes no Olimpo Traçando caminhos harmoniosos Durante anos de período azul Durante anos de hokusai Tinham a generosidade de nos mostrar Como interpretar O tempo na Terra * Miguel-Manso serei breve contra a santidade do passado eterno fui viver com os lobos e nenhum se apercebeu que eu não era um deles descalça-se, miguel-manso * haiku da paz Procura em ti O que não encontrares Em lado nenhum Todo ele adiantou-se para os olhos
Embarricou-se Num mocambo atrás da língua Clandestino num tonel Rolou até o reto Atravessou-se Curtume até o império seguinte * Tenho olhado muito para o mar O mar não se incompreende quando vai se avistar com a pedra é claro o nosso desejo de reviver – é claro Exaustivamente claro o seu desejo de enterrar-nos numa transparência verde polida, pé-direito altíssimo "Mansão dos mortos" não há incompreensão todo o trato nos é proibido toda tentação de discurso todo movimento atado por conchas * As Humanidades Também eu trabalho materiais vermelhos. * Ser alegre ter linguagem Parecem-lhe por vezes condições Irreconciliáveis Ter linguagem, o sono conciliado Oponível e com mundo Mamífero e com mundo Conífero e com mundo ter Mundo alegria e linguagem Parecem-lhe por vezes Mandos incumpríveis Só agora parece-lhe tantos Anos decorridos começa A perceber-se em linguagem * Felizes nações, caso Ainda exista alguma, chorem-no deveras Este que amar Prostra em província A cujos poros não Acorrem peônias Fulva barba roça os pés Em errores de varanda Descalço enfim Sobre um prato de deserto * Dia haverá em que os poetas terão afinal esquecido suas credenciais, farão finca-pé neste mundo e mundos. De regresso da calada, o bulevar anunciável, flores colhidas aos quiosques que fronteiam o campo-santo. Um cômodo estouro de cores tomado do interior de um veículo em movimento. Muitos povoados por cruzar após o silêncio. O silêncio regurgitava de povoados por cruzar. Eis que emergimos à esquina, cessada toda flutuação, esvaziado todo sentimento cívico. Uma bondade dura, devolvida. |
Histórico
Novembro 2021
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