Diante de ti
No mar que palpita os olhos, escarnece a alma Diante de ti, Em meio ao véu soturno Do primeiro sopro cardíaco da manhã Perpétuo O cheiro de abacate cortado Indignas Roseiras em caules mastigados Tiranos Psicopatas em cruzes de orvalho Diante de ti, Bigas transportando palhaços invisíveis Quimeras em estátuas de sal Maçãs nas teias de aranha O improvável mausoléu de heranças equívocas No mar que palpita os olhos, escarnece a alma Diante de ti, Godot na corda de Lucky Sabor dos cachimbos de plástico Colchões em pé no canto do quarto O amargo estampido no palato do fantoche As ruínas nas migalhas de janeiro Diante de ti, Sobremesas antes do jantar Nicotina em doses curativas Puxadores soltos nos parafusos Conservas vazias embaixo da pia No mar que palpita os olhos, escarnece a alma No mar que palpita os olhos, escarnece a alma Diante de ti, Túmulos em poses circenses Acrobatas no subúrbio animal Embriaguez em tempos de paz Baratas mortas dentro dos moletons Almoços em xícaras de papel Adiante, adiante, adiante Elos em crinas de borracha O improvável mausoléu de heranças equívocas No mar que palpita os olhos A planta do céu da boca Antílopes fumando cigarros de bronze Cobertores atirados em camas molhadas Diante de ti, escarnece a alma Interruptores amarelos como os dentes Panelas com cabos quebrados Isqueiros molhados Pregos de cabeça torta Azeite na garrafa de vinagre Vinagre no pote de sal Sal na boca do fogão Buraquinhos do chuveiro trancados Alicate que não abre mais Diante, diante, diante De ti Não adianta Mais * Sobre nada Mesmo que o grão disseminado Conteste a singularidade do plantio E a terra em desuso Combata o florescer obscuro Delírios ácidos acentuarão Debalde, a irrigação nos poros Latentes em cada movimento Mesmo que imortalizar os vícios Signifique simpatizar a paranoia Ramas plácidas infinitas Ainda codificarão o instinto E os pressupostos doutrinarão a culpa Se os sapos tivessem asas Não bateriam com o traseiro no chão Sempre que pulam Mesmo que as pupilas dilacerem o razoável E as bigornas sirvam de peso para papel Alguma coerência ainda restará E vibrará como uma víbora No forno aceso Jogar fora a própria vida Significa usá-la da melhor forma Mesmo que confrontar medo com medo Seja um blefe da consciência A confusão enrijece o apetite Por tudo que se ganha sem razão Admita que sempre foi hipócrita! Sendo hipócrita, como posso admitir? Ousar ou usar Se em qualquer momento da minha vida Eu depositar toda minha esperança em alguém Então podem ter certeza De que perdi a esperança Mesmo que nada seja atributo de tudo Tudo que se escreve sobre nada Sobretudo Sobre nada, esse poema Não quer dizer tudo Um peixe de sobretudo Nada nada Em seu aquário * Plano cartesiano A luz da lâmpada cobriu meus temperos Já não encontro minha doença dentro do pote Procuro em vão, um dia sóbrio na geladeira Comprei bolo de formiga, chá de astronauta Um chiqueiro novo, ferraduras de anjos Uniformes despejados, cinzeiros desbotados Alqui mia, cheia de bigode e pose Está tão gorda e peluda quanto seu dono Encontrei alguns remédios contra-indicação Quando bisbilhotava a construção ao lado “Ei” gritou-me o proprietário lá da rua “Se acabar com minhas pílulas Sou bem capaz de comprar um pato e um tapete” Já não encontro minha doença dentro do pote A luz da lâmpada, a luz da lâmpada Alqui não veio mais aqui Procuro em vão, um dia sóbrio na geladeira Comprei molho de algodão, rocambole de eutanásia Fissuras cerebrais acrobáticas, miúdos elétricos Ultrajes simbólicos, medo do escuro Encontrei um pato e um tapete Quando bisbilhotava a construção ao lado “Ei” gritou-me o proprietário lá da rua “Se acabar com minhas pílulas Sou bem capaz de comprar um pato e um tapete” Já não encontro minha doença dentro da lâmpada Procuro em vão, um dia sóbrio no pote Alqui mia, algo dão Alqui mia, algo dão Alqui mia, algo dão Alqui não veio mais aqui Se Alqui mia Algo dão
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Novembro 2021
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